Como todos sabem não sou formada em
Letras e os conhecimentos que possuo de Teoria Literária não são suficientes
para tecer qualquer crítica a algum outro colega escritor. Aliás, nem tenho tal
pretensão.
O que pretendo ao comentar os
livros de autores riograndinos que lançaram na Feira do Livro (sendo que, neste
ano, só pude escolher três, e preferi não adquirir nenhum de autores de outros
lugares) é apenas divulgar o trabalho realizado em Big River, nesta área
cultural, e comentar o que encontrei de interessante nas obras dos colegas.
Hoje falarei um pouco sobre o livro
de Paulo Olmedo, intitulado “A Razão do Absurdo”.
E aí já começa o ‘problema’, por
assim dizer, pois quem poderia confiar num livro com um título que tenta
encontrar sentido em algo que geralmente é desconsiderado ou tratado como
irracional?
Para mim, desconfiada que sou, o
título, por si mesmo, já prendeu minha atenção: eu prefiro que se reconheça que,
mesmo em meio ao caos, existe certa razão ou lógica do que acreditar que sou a
única maluca que pensa assim.
Olmedo despertou minha curiosidade no
título por pelo menos me dar a entender que ele vê algumas coisas como eu, ele
identifica que mesmo em situações muito absurdas, de cunho real ou fictício,
engraçadas ou tristes, existe uma lógica que explica porque os fatos estão
ocorrendo, mesmo que essa racionalidade possa ser entendida apenas pelo
personagem criado ou pelo leitor.
Portanto, nada é ilogicamente
absurdo ou impossível, mesmo que somente o personagem, ou quem se identifica
com a história, possa entender porque certos fatos fazem tanto sentido para si,
embora não para outros.
Para mim, isso resume o título e a
obra, que capta cenas do cotidiano ou do plano da imaginação, sentimentos,
conflitos, ações e pensamentos que, em geral, são visto como produtos de
atitudes absurdas e, portanto, incapazes de ocorrerem na vida real.
No entanto, justamente o que torna
a leitura instigante é perceber que, mesmo sendo aparentemente absurdas, muitas
coisas descritas por Paulo Olmedo podem e acontecem no dia a dia.
E, quando não ocorrem, é bastante
possível que um dia pudessem vir a acontecer, eis que, na verdade, as ações e
os personagens criados pelo escritor nada mais são do que fruto da absurda
condição de humanos que todos possuímos.
Contos
que mais apreciei:
A
Caixa Mágica: quem de nós, diante de uma tragédia sofrida por
outros, ou por nós mesmos, não gostaria de ter uma forma de reverter a
situação? A tragédia do menino deste texto é tão densa e o peso que isso lhe
traz é tão grande que se torna nosso. Eu também desejei que a caixa mágica
pudesse confortar o personagem.
Havia
dias em que acordava com a camisa da seleção: não, não é
um conto sobre a nostalgia que muitos torcedores têm de seleções brasileiras e
campeonatos mundiais do passado. É a crônica de como um fato, mesmo que sem
muita importância, pode modificar a vida de uma pessoa e transformar a mesma. É
a narrativa lógico-absurda de como uma situação pode levar as pessoas a
extremos e depois o processo se reverter e já não se ter mais a certeza
absoluta sobre quem eram os loucos. Gostei muito do fim que considerei muito
original.
Pirulito
comeu caviar: este foi um dos meus preferidos, embora bastante
trágico. A realidade desnudada neste conto, acredito, muito bem pode ter
ocorrido em qualquer lugar, talvez aqui mesmo na nossa cidade. E essa dureza ao
descobrir o que Pirulito comeu, sem que o autor precisasse usar recursos
forçados para induzir a reflexão ética, é que leva o leitor a pensar em que
tipo de sociedade estamos vivendo ou criando.
Pirandello
e Ele: excelente crônica sobre o exercício da literatura, expondo o
egoísmo do escritor que cria ‘vidas’, mas não concede autonomia para seus filhos
‘darem’ os rumos que desejam as mesmas, ainda que fictícias. Alguns a
classificarão como uma alegoria. Gostei muito também.
A
razão do absurdo: este conto me faz pensar se não seria o sonho do
próprio autor que é narrado, mas prefiro acreditar que ele não deixaria seus
sonhos pessoais assim expostos a comentários públicos, pois isso seria um
absurdo. Contudo, talvez por ser tão absurda essa seja a resposta racional exata.
Não sei, devo estar escrevendo isso porque, na realidade, eu me identifiquei
com o personagem; já tive a mesma aspiração. E para esconder isso, estou
tentando dizer que esse é o sonho do Paulo, digo, de João Pedro, que bem
poderia ser qualquer um de nós, escritores dessa cidade. Excelente conto.
Entrou para o rol dos meus preferidos.
Então é isso. Acredito que se deve
ler Paulo Olmedo pela capacidade que ele tem de criar essas situações que bem
poderiam ocorrer conosco.
Acredito que se deve ler “A Razão do
Absurdo” porque a vida é absurdamente racional e nós bem que poderíamos ser um
dos personagens deste escritor riograndino.
Adriane
Dias Bueno
Nossa! Só uma coisa a dizer: muito obrigado. Por ter entendido a proposta e também por ter se identificado com os contos/personagens.
ResponderExcluirSó preciso deixar claro que o final do "Havia dias em que acordava com a camisa da Seleção" não é tão original assim. E a "dedicatória" do conto entrega isso hehehe
Caro Paulo Olmedo:
ExcluirAgradeço tua leitura atenta do meu comentário sobre teu livro e o registro de tuas impressões sobre o mesmo, que fizeste tanto aqui quanto em meu face.
Fico feliz que tenhas gostado e que tenhas te 'arriscado' a te tornar seguidor deste blog que é o avesso do meu outro www.avessasingularidade.blogsport.com.br
Fica o convite para participares deste com algum texto, com a menção do teu nome, naturalmente, ou quando quiseres escrever para uma das colunas daqui esteja a vontade.
Abraços