Ela estava muito cansada. Seu corpo suava em bicas. O estômago não parava de protestar por causa da fome. Seu cérebro acelerava e desacelerava ininterruptamente, causando um redemoinho de sensações e pensamentos qe dava ânsias de vômito.
No entanto, ela não podia se dar ao luxo de parar, mesmo qe estivesse caminhando há horas. Apesar da exaustão, da dor nas pernas e braços, no pescoço e nos olhos, naqueles olhos qe o medo tornava ainda maiores e mais escuros, ainda mantinha um passo rápido e constante.
Ela precisava chegar até sua casa. Lá, poderia descansar, forrar a barriga com algum alimento e encontrar uma relativa segurança, mesmo qe por pouco tempo.
Dobrou mais uma esquina com grande esforço. Se conseguisse manter o ritmo por mais alguns metros estaria salva. Sua casa estava localizada qatro qadras adiante, embora o caminho até lá não fosse linear. Ela estava fazendo um percurso diferente do qe costumava realizar, embora mais demorado. Talvez assim tivesse uma chance de chegar a sua residência antes qe eles a alcançassem.
Novamente ela tentou entender porqe eles faziam isso, mas não conseguiu. Já tentara de tudo para se livrar daqela perseguição. Tentara conversar com eles, depois fizera denúncias, com direito a retrato falado, fornecimento de endereços a polícia, mas esta ou não localizava aqeles que a perseguiam ou não se esforçava suficientemente para isso, o qe era o mais provável.
A situação já durava dois anos e nenhuma solução foi obtida, apesar do medo qe sentia e dos ferimentos qe surgiam em seu corpo como prova dos ataqes. Por isso desistiu de procurar as autoridades. Preferia sofrer sozinha a ter qe ouvir o qe diziam.
Já era noite. Havia escurecido tão rapidamente qe ela nem percebeu, até porqe, além do esgotamento físico, estava usando óculos de sombra. Seus olhos andavam muito sensíveis a qalqer tipo de luz. Ela usava os óculos inclusive dentro casa, fosse dia ou noite.
Sua cabeça estava coberta com o capuz do moletom qe usava por baixo de uma jaqeta de brim puída nos cotovelos e nos punhos, qe levava seguidamente a boca para não ficar mordendo os dedos. Usava calça jeans e um par de tênis “AllStar” velho e sujo, mas confortável.
Devido à situação qe enfrentava estava usando a mesma roupa há qatro dias. Ela se sentia imunda, nojenta, com cheiro de bicho porco. Qeria um banho com urgência.
Já era noite. De agora em diante, qalqer coisa poderia acontecer. E qando dobrou uma esquina ela teve a confirmação desse fato. Estava há duas quadras de sua casa. Parou num canto escuro para identificar o próximo ponto alternativo do caminho. Mas percebeu algo estranho iluminado pela luz de um poste justamente no local que pretendia alcançar.
Lá estavam eles, os qatro elementos que a vinham perseguindo há cerca de 24 meses. Estavam totalmente imóveis, como estátuas seculares, formando uma fila, lado a lado, seus olhos brilhantes de escuridão: um homem, duas mulheres e um ser qe ela não conseguia definir a qe sexo ou gênero pertencia.
Era tenebroso vê-los, mesmo visto a distância, mesmo sem saber como explicar o como ou o qanto. Seus trajes eram estranhamente familiares. Ela sentia que já tinha visto aqelas roupas em algum lugar.
A garota colou instintivamente o corpo contra a parede da casa da esqina, onde se propagava um negrume pior qe o breu. Qeria acreditar qe eles não tinham visto sua figura magra e frenética pela indecisão e medo em qe vivia. Observou os qatro indivíduos. Estavam de cabeça baixa e nada falavam entre si, embora ela qase conseguisse ler seus pensamentos. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
“E agora o qe eu faço?”, se perguntou aflita. “O qe eu faço, o qe eu faço, o qe eu faço”, ecoou enquanto estalava os dedos repetidamente. Qando produziu o último estalo qe seus dedos poderiam suportar, uma das figuras levantou a cabeça e olhou de forma fulminante para o lugar escuro qe ela estava usando como camuflagem.
A moça sentiu o elemento esboçar um leve sorriso e cutucar a companheira ao lado, qe levantou a cabeça e reproduziu o gesto até qe o qarteto inteiro passou a mirar seu esconderijo.
Ela apertou os olhos com força. Talvez eles sumissem como já havia ocorrido antes. Qando levantou as pálpebras, a decepção cobriu seu corpo como um manto grudento e sufocante. Aqelas criaturas ainda estavam lá, agora gargalhando do seu desespero e se empurrando exaltados, porque sabiam como ela se sentia.
Eles farejavam o cheiro de medo, que seus poros exalavam, como cães prestes a entrar numa rinha. Então, um silêncio nefasto surgiu entre as aberrações e resvalou pela rua.
Os qatro olharam para ela até perfurarem sua alma. O primeiro começou a caminhar lentamente em sua direção, sendo seguido pelos companheiros, mantendo a distância de três passos entre si. Qando eles faziam isso a sensação de desconforto a pressionava como um torno: ver um tigre saltando sobre o corpo dela já era ruim; três, então, acabavam com sua sanidade.
Ela olhou para os lados, apavorada. Descobriu as luzes fracas duma lancheria barata a meia qadra de onde se encontrava. Não raciocinou. Apenas saiu em disparada até o lugar, embora tivesse qe passar por baixo das luzes dos postes, revelando totalmente sua presença física para seus inimigos.
Enqanto corria, espiou por cima do ombro. Notou as sombras profanas começando a correr. E eles se aproximavam muito rápido. “Oh, Meu Deus! Eles qase voam!”, pensou tropeçando por causa disso. Mas recuperou o eqilíbrio automaticamente, alcançando a porta da lanchonete antes do qe esperava. Entrou sem olhar para trás.
As pessoas observaram a figura desgrenhada, qe se jogou de supetão para dentro do bar, intrigadas e, ao mesmo tempo, entediadas pelo efeito da bebida ou qalqer outra coisa qe pairava no ar e deixava o ambiente meio velado. Depois voltaram indiferentes ao qe estavam ou não fazendo.
Ela procurou e encontrou a mesa mais distante da porta, localizada num canto escuro da lancheria. Sentou-se e ficou olhando a janela irreqieta. As sombras, com seus corpos pesados de uma maldade que se espalhava pela rua, passaram correndo: a qarta, a terceira, a segunda e a primeira... a primeira parou diante da vidraça por alguns segundos. Ficou perscrutando e farejando o ambiente baço.
Qando a garçonete chegou a sua mesa para perguntar sobre seu pedido, aqela coisa fixou os olhos no canto em qe ela estava. Assustada com sua aparência a atendente perguntou se a cliente estava bem. Ela olhou a garçonete de relance e apontou a vidraça com um dedo trêmulo. A criatura sorriu de forma maligna e sumiu repentinamente no exato segundo que a funcionária voltava os olhos para o lugar apontado.
- Moça, não tem nada lá. – a garçonete falou, tentando acalmá-la. Disse qe traria um copo de água porqe ela parecia sedenta. Ela concordou, pois era verdade. Antes da atendente ir, a moça fez seu pedido. Sabia qe não conseguiria aguentar mais um segundo sem colocar algo sólido na barriga.
Ela devorou a comida rapidamente, qase como um animal. Pediu mais uma torrada, porqe ainda não tinha saciado a fome de dois dias, e uma garrafa de água mineral para levar. Qando terminou, olhou a janela por algum tempo.
Levantou-se da mesa e se aproximou da porta de saída. Espiou a rua pela vidraça. Nenhum sinal das sombras qe a atormentavam há dois anos. Vinte e quatro meses de correria, sons qe não conseguia saber de onde vinham, de machucados espalhados pelo seu corpo devido aos ataqes qe sofria, de fones enfiados nos ouvidos com música tocando no último volume, porqe, qando andava nas ruas e os via na outra calçada, gritando seu nome, palavras ofensivas e juramentos de qe ela iria acabar se juntando a eles, era insuportável demais.
Dois anos desde qe chegou em casa e encontrou o seu gatinho na porta dos fundos, com o pescoço torcido e cortes, cicatrizados ou ainda abertos, espalhados por seu corpinho. Ela teve qe enterrá-lo no fundo do pátio, chorando sozinha, pois perdera seu único amigo. Para seu horror, no local encontrou a sepultura de alguns ratos, outro gato e um esqeleto qe não conseguiu identificar a qe espécie pertencia, embora desconfiasse.
Precisou mudar de residência, indo morar na casa velha de uma periferia afastada e decadente, onde tentava chegar agora. Sabia qe lá estaria bem, poderia dormir e esqecer por um tempo aqele horror em qe estava vivendo.
Então, tomou coragem. Abriu a porta da lanchonete com brusqidão e disparou rua afora. Não ouviu nenhum barulho estranho, nenhuma rizada grotesca, nenhum som de passos correndo atrás dela. “Acho qe eles desistiram por hoje”, pensou um tanto aliviada, mas sem criar grandes esperanças.
Chegou em casa com os nervos despedaçados. Pelo menos estava salva da malevolência dos seus perseguidores. Abriu a porta, praticamente saltando para dentro do recinto, fechou-a, passando a chave nas duas fechaduras, prendendo o pega-ladrão e colocando as barras atravessadas na parte superior e inferior da porta. Tinha certeza qe eles não conseguiriam arrombar a entrada dessa vez.
Encostada na porta ela percebeu qe há qatro dias eles a estavam perseguindo muito mais acirradamente qe nos dois anos anteriores. Contudo, a caçada ficou pior nos dois últimos dias, depois qe ela tinha voltado do médico.
Por fim, a moça se jogou no sofá velho qe estava na sala e onde, muitas vezes, passava a noite porqe tinha medo de dormir sozinha no seu qarto. Este tinha uma janela ampla, sem persianas. Somente umas cortinas velhas e gastas impediam qe a privacidade fosse totalmente devassada por qalqer vizinho mais curioso. A luz da lua entrava sem pudor no ambiente, como se qisesse desnudar a força seu corpo, criando sombras nos cantos qe a deixavam terrivelmente assustada.
A guria somente dormia no dormitório qando chovia. Gostava de ver os pingos batendo contra os vidros da janela, fazendo plic plec no telhado, molhando as folhas da antiga figueira qe fora plantada pelos anteriores proprietários da casa no quintal amplo.
A chuva lhe dava paz. Eles nunca apareciam em dias chuvosos, certamente porqe não havia cantos escuros onde eles pudessem se esconder e ficar a espreita dela.
Enfim, ela adormeceu. Um sono entremeado de dor e medo, com visões de feras e sangue manchando as paredes da casa e o piso. Acordou repentinamente, soerguendo o corpo molhado de suor, no exato momento em qe ela ia soltar um grito, enqanto o sangue empoçado escorria em direção aos seus.
Comprimiu os olhos com força, contendo o grito qe fez força para repercutir na sala. Ela detestava gritar desde qe era menina. Sempre aguentara no osso do peito várias coisas sem soltar um gemido seqer. Diziam qe era orgulhosa por causa desse seu hábito. No fundo, ela simplesmente não conseguia externa nada do qe sentia, mesmo nas ocasiões qe um berro faria bem a alma.
Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos do cérebro acelerado. Era mais tarde do qe supunha, como pode comprovar ao olhar o relógio de parede. Jogou os pés para fora do sofá, sentando-se e apoiando os braços nas pernas, devido a tontura que sentiu.
“Eu sei do qe to precisando”, pensou, enqanto se levantava e tentava firmar o tronco sobre as pernas trêmulas e os pés trôpegos. Cambaleou até a porta da cozinha e apoiou-se no batente, olhando para o interior daqele cômodo semiescuro.
Sobre a mesa uma caixinha branca cruzada por uma faixa preta. Infelizmente, precisava do conteúdo dela. Rumou até a geladeira para pegar água. A sede persistia e a água ainda seria necessária para engolir as bolinhas. Abriu o refrigerador, mas não tinha nada dentro, líqido ou sólido.
“Preciso comprar comida”, pensou desanimada. Então, lembrou-se da água qe trouxera da lancheria e deveria estar na sala. Começou a se dirigir para lá, tonta e experimentando uma leve ânsia de vômito, qando sentiu um cheiro estranho.
Mirou o chão. Havia uma poça enorme. Abaixou-se e tocou na umidade que via. Era grudenta, com um cheiro de ferro oxidado, mas não conseguia identificar a cor ou o qe seria. O mal estar aumentou.
Resolveu limpar a bagunça depois. Levantou-se e foi até a sala, pegou a garrafa de água e voltou para a cozinha, a vontade de expelir algo aumentava dolorosa e gradativamente. Tropeçou numa cadeira perto da mesa. Firmou as mãos nesta para não cair, sentindo dor na canela qe se enroscou com a cadeira.
Foi quando ela viu: a porta dos fundos estava escancarada, permitindo qe a luz da lua incidisse sobre a poça no chão, uma poça vermelha como sangue.
Ela caiu sobre os joelhos, as mãos desabando sobre o líquido no piso, e vomitou, uma vez, depois outra, encima do sangue coagulado. Qando não restava mais nada no estômago para ser rejeitado, aprumou o corpo, levando as mãos grudentas aos cabelos. Ficou sentada alguns segundos, se balançando desesperada.
Por fim, rastejou até a porta aberta. Pretendia fechá-la, mesmo correndo o risco de descobrir qe eles estavam dentro da casa. “Qe me matem de uma vez”, pensou com raiva.
Nunca chegou a fechar a porta.
Sobre o tapete de entrada ela viu algo branco, felpudo e imóvel. O pescoço está torcido e cortado de uma forma bizarra. Ferimentos se espalham pelo corpinho, os olhinhos verdes fixos numa expressão de medo, dor e incredulidade.
-Puff! - a garota exclamou em agonia. –Puff, me desculpa. Olha o qe aqeles deesgraçados fizeram. Puff! – ela repete o nome diversas vezes, aconchegando o gatinho morto em seu colo, em meio às lágrimas qe escorriam por seu rosto pálido e encovado.
Pegou o tapete com cuidado. Puff estava morto, seu único amigo, seu último consolo em meio ao caos em qe vivia. “Morreu sendo torturado por qatro aberrações da natureza”, ela pensou com raiva, caminhando para o fundo do qintal onde, como já havia acontecido na outra casa, iria enterrar o qe restou do seu bichinho de estimação.
Ela parou no canto mais escuro do terreno. Ali havia terra fofa porqe ela pretendia cultivar um peqeno jardim. A pá, com a qal a guria remexera a terra antes da sua fuga alucinada, ainda estava encostada no muro.
Pegou a ferramenta e começou a cavar. Depois de alguns minutos de trabalho, parou e olhou para o tapete. Ajoelhou-se, desembrulhou o gatinho e alisou seu pelo. Acabou de abrir a cova com as mãos, sujando a cara, misturando o sangue em seu cabelo com terra, o qe deixou seu rosto asqerosamente manchado.
Retirou mais um pouco de terra do buraco. Encontrou a ponta de um tecido. Parou um instante a tarefa de coveira e olhou desconfiada para o pano encardido, mas qe já havia sido imaculadamente branco. Foi abrindo um espaço maior em volta daqela ponta até formar um qadrado qase perfeito. Era um lenço.
-Mas o qe? – murmurou baixinho, observando o local, com um misto de curiosidade mórbida e medo daquilo qe poderia estar debaixo do pano. Notou qe num dos cantos do lenço havia uma anagrama bordado: “AB”.
Lutou com a vontade de sair dali correndo e deixar tudo para trás, fugir para um lugar isolado, silencioso e nunca mais voltar. Contudo, a necessidade de saber o qe estava acontecendo, e a curiosidade natural qe tinha desde criança, venceram a batalha. Ela puxou a ponta do lenço vagarosamente, até descobrir a terrível verdade.
O horror tomou conta dos seus olhos, da sua boca e ouvidos e roubando sua voz.
Debaixo da terra fofa, do lenço encardido, um rosto contorcido pela dor e surpresa. Uma boca aberta, deixando expostos dentes qe se arreganhavam num esgar qe implorava misericórdia. No pescoço outra boca se abria, formando um qase sorriso, como a debochar da brutalidade com qe a vida daqela mulher havia sido ceifada.
-Oh! Deus! Minha irmã! – ela repetiu algumas vezes, sendo invadida por uma sensação de entorpecimento. E alisava aqele rosto sujo de terra e sangue, num desespero cruel, qe tornava impossível sentir alguma dor.
-Foram eles, não foram? Eu te avisei. Eu sei qe foram os monstros. Sinto muito. Desculpa. Eu já devia ter acabado com eles. A culpa é minha, é minha, é minha...- dizia para o cadáver de olhos esbugalhados.
A garota ouviu um som às suas costas. Virou-se rapidamente e os viu, saindo do interior da casa e parando perfilhados perto da porta. A luz da cozinha incidia por detrás dos qatro, escurecendo ainda mais suas caras terríveis, ressaltando o brilho perverso dos seus olhos e o contorno de suas bocas vorazes.
Ela conseguiu ver em detalhes as roupas qe eles vestiam, identificando as mesmas finalmente: todas deveriam estar em seu guarda roupa. Pelo visto, a gangue acreditavam qe tudo qe sua presa possuía também pertencia a eles.
Enfim, devido a proximidade, agora ela também conseguia descrever as criaturas.
O líder era um homem. Sobre os cabelos, levemente compridos e de tom castanho, ele usava um chapéu de abas largas, com uma delas caindo parcialmente sobre o rosto, lhe dando um ar mais amedrontador ainda. Seu corpo era coberto por um capote de couro, uma camisa azul onde se via uma grande mancha escura, uma calça jeans batida, um cinto onde pendurava a bainha de uma faca, e botas pretas de couro e bico fino com ponteiras de aço. Ele media aproximadamente um metro e oitenta.
A mulher a seu lado deveria ser sua parceira e a segunda em comando. Trajava um vestido vermelho acima dos joelhos, qe valoriza seu corpo esbelto, e sapatos de salto alto. Seu cabelo negro, liso e comprido contrastava com a pele extremamente branca qe parecia cintilar a luz da lua. Sua boca cheia esboçava um sorriso irônico. Seus dedos terminavam em unhas qe pareciam garras, embora não fossem excessivamente longas. A mulher se postou ao lado do chefe tão imóvel quanto uma estátua.
A segunda fêmea era mais baixa qe a primeira e um tanto roliça. Seus cabelos claros batiam na altura dos ombros, eram levemente encaracolados e estavam desgrenhados, como se ela vivesse puxando e enroscando os fios. Vestia uma calça de brim rasgada em alguns pontos, uma camiseta com uma frase em inglês, e tênis ‘AllStar”. Ela se balançava um pouqinho, como se estivesse impaciente, enqanto segurava a mão da primeira mulher. Parecia uma menina desamparada e, ao mesmo tempo, a fúria em pessoa.
Não era possível distinguir a qe sexo pertencia a última criatura. Tudo em seu ser era andrógeno, desde o corte dos cabelos ruivos até as roupas qe vestia. Esbelto, flexível, e mais alto que o líder, tudo nele ou nela (qem sabe ambos?) era voraz e serpenteante. Talvez sua boca fosse a maior que ela já vira em sua vida. Nenhuma palavra conhecida seria capaz de descrever corretamente essa aberração. Isso a tornava a mais assustadora de todas. Tudo indicava qe este último ser poderia devorar o qe encontrasse a seu redor: sem medo, sem culpa, sem compaixão.
Ela começou a recuar, arrastando seu corpo dormente com a ajuda dos pés e das mãos, até qe suas costas bateram contra o muro no fundo do pátio. Não tinha mais para onde ir. Limitava-se a balançar a cabeça em negação, porqe agora sabia que não restava nada qe pudesse fazer.
O líder sorriu. Com um comando imperceptível ele determinou qe todos começassem a andar vagarosamente na direção dela. Um passo de cada vez. Repentinamente começaram a correr.
Os movimentos feitos por seus perseguidores desencadeou um flash na mente da guria, levando-a a descobrir como sua irmã morreu. Foram eles, os qatro.
As aberrações haviam invadido sua casa alguns dias atrás, durante uma visita de sua irmã. Ambas estavam discutindo como sempre acontecia. Os qatro surgiram dos cantos escuros da casa, um a um, enqanto ela tentava avisar AB da presença deles. Sua irmã não acreditou ou não os viu a tempo, como ocorria desde que a sua desgraça começou.
O qarteto riu, debochando do aspecto e do pavor de AB. Depois saltaram sobre sua irmã e bateram nela até qe seu corpo tombasse no chão, sangrando. AB implorava para qe aqilo parasse.
O líder se ajoelhou ao lado dela e puxou a faca da bainha, encostando o gume no pescoço da sua irmã. Tapou a boca dela e foi cortando sua garganta lentamente. Uma mancha se fixou na camisa daqele ser grotesco e uma poça começou a se espalhar pelo piso da cozinha.
Mas foi nas mãos da garota perseguida qe o sangue de AB grudou. Foi nela qe a violência deixou marcas arroxeadas na pele dos braços, peito e pescoço.
O flash terminou em frações de segundos. As aberrações se aproximavam cada vez mais. Agora corriam sobre suas mãos e pés, feito macacos enraivecidos.
Os qatro saltaram sobre ela ao mesmo tempo, antes qe pudesse gritar por ajuda.
Eles a devoraram em qestão de minutos e sumiram. Sumiram para sempre nas trevas existentes entre a cova descoberta e o muro do qintal.
Uma hora depois uma pessoa se levantou com dificuldade. Suas roupas eram de couro, jeans e seda vermelha. Seus cabelos possuíam mexas de várias cores. Seus lábios eram vermelho sangue e os olhos profundamente escuros e perversamente brilhantes.
A pessoa olhou para a cova e o rosto qe nela se encontrava. Com a biqueira de aço da bota empurrou um pouco de areia sobre a cara desfigurada de AB, rindo um risinho baixo e frio.
Por fim, começou a caminhar em direção a porta da cozinha, percorreu o interior da casa, abriu a porta da frente e saiu para a madrugada qe estava se transformando em dia.
Agora, mais um monstro estava caçando na cidade.