Tudo começou ninguém sabe
como.*
As coisas foram se sucedendo
de uma forma que, a princípio, não apresentava nenhuma estranheza. No entanto,
com o correr dos dias e a ocorrência mais frequente dos mesmos fatos envolvendo
certo grupo de amigos, a situação acabou chamando a atenção dos mesmos. Como
não poderia deixar de ser eles passaram da sensação de estranhamento, para
espanto e, por fim, devido a um acontecimento bizarro, ao medo total e
completo.
Como explicar o que estava
ocorrendo? Por que somente eles eram acossados por aqueles fatos estranhos e
horripilantes, tendo em vista o último desfecho? Havia muito que o grupo
dissolvera o clube que pesquisava crimes praticados pelos conhecidos “seriais
killers”, não para desvendar os casos pendentes, mas como forma de entender a
psique destes seres amorais e por simples curiosidade e falta do que fazer.
Nem todos pensavam que o que
estava acontecendo agora tinha algo a ver com o antigo clube. Achavam mera
coincidência que eles estivessem sendo alvo de uma coisa tão esquisita e, por
fim, violenta. Mas a maioria dos dez amigos, coincidentemente cinco homens e
cinco mulheres, acreditava piamente que tudo estava ocorrendo por causa daquele
maldito clube.
“Ideia imbecil essa do
clube”, dissera Rafael, num dos encontros que o grupo havia realizado, para
analisar a situação, antes do fato bizarro que levara a morte de um de seus
amigos, Graziela. A moça era tida como uma excelente observadora de caráteres e
pesquisadora. Dos casos que eles haviam estudado, cerca de 80% fora ela que
conseguira chegar ao diagnóstico preciso, bem como aos motivos dos crimes
praticados pelos sociopatas.
E agora ela não estava mais
ali para ajudá-los a entender o que estava acontecendo, quem poderia estar
tramando contra eles e o porquê. Aliás, nem a polícia acreditava que tudo isto
estava relacionado somente com o grupo e seu clube, pois haviam encontrado
evidências de que a situação, melhor, o mesmo tipo de crime já havia sido
praticado anteriormente, numa cidade próxima, com pessoas que nem sequer tinham
relação umas com as outras.
E a tensão pairava no ar. Seria possível
cortá-lo com uma navalha de fio bem afiado e fino tal era a sensação que todos
estavam sentindo diante daquela carta que receberam. Alguns queriam negar os
fatos, outros, prudentemente, os aceitavam e queriam acreditar que fosse possível
resolver o mistério que os estava assombrando, embora, no íntimo, duvidassem
que teriam tempo para isso.
Assim, os investigadores
continuavam a dizer que a morte de Graziela fora causada por um criminoso comum,
ou se havia um psicopata envolvido, ele estaria atrás somente da falecida, que
tinha semelhança com duas vítimas dos crimes cometidos na outra cidade, e não
por causa de pessoas que mantinham relações entre si, por vínculo de amizade ou
pelo fato de participarem de um mesmo grupo de estudos.
“A polícia sempre descarta o
óbvio”, pensou Fernando quando ouviram essa explicação. “Esquece-se de
investigar o básico: o fato aparentemente inexplicável que sempre revela a
verdade por trás destes crimes. Não poderia ser diferente, eles não estudam como
se dá o desenvolvimento desses criminosos e como ocorre a escolha das vítimas.
Não entendem nada de perfil criminológico ou vitimologia. Por isso que
raramente se prende um psicopata no Brasil. Os investigadores não estão
preparados para estudar as nuances psicológicas de cada criminoso e descobrir a menor ligação entre
as pessoas que são alvo deles”, suspirou desalentado e temeroso, apesar de seu
espírito frio. Talvez o mais frio de todos os componentes do grupo.
No entanto, apesar dos esforços empreendidos em
conversas posteriores a morte de sua amiga, nenhum dos componentes do extinto
clube ainda atinara
como encontrar uma forma de solucionar o caso. E a polícia continuava sem a
menor pista de quem estava aterrorizando os nove amigos. Pior, insistiam que
nada tinha a ver com eles e que eles descansassem, pois ninguém mais iria
atacá-los.
Então, o que significaria aquela carta que haviam recebido,
individualmente, mas determinando que todos eles deveriam procurar a resposta
para ela? Que deveriam se empenhar em descobrir quem era o remetente?
Ele, ou ela (sabe-se lá, nos dias correntes as mulheres assumiram
diversos papéis na sociedade, inclusive no meio criminoso), admitia a culpa
pela morte de Graziela e informava os membros do clube que deveriam aceitar o
desafio, senão todos teriam um destino idêntico ou pior que o da amiga deles.
O argumento da polícia quando viu a carta datilografada? Deveria ser
alguém de mau gosto que queria se divertir à custa do grupo. Apenas alguém
irritado com eles por se dedicarem a uma atividade tão desconcertante para as
demais pessoas. Zombarias por eles serem esquisitões que pesquisavam mentes
assassinas.
Entretanto, cada um dos nove amigos sabia que a carta era verdadeira,
não apenas pelo fato de que o teor principal era idêntico em todas as cópias
recebidas por cada um deles, mas por conter dados pessoais que nenhum dos nove
sobreviventes conhecia sobre o outro. Naturalmente, que os dados confidenciais
não foram discutidos entre os colegas, apesar de o momento indicar que essa
medida deveria ser tomada. Muito menos com a polícia. Eram segredos que não
deviam vir a tona.
Seria por isso que as autoridades policiais não conseguiam ver a ligação
do criminoso com as pessoas que tentavam desesperadamente chamar sua atenção
para o fato de que os alvos eram os membros do clube?
A única coisa que eles podiam fazer agora era esperar a próxima carta.
Ela traria as orientações que os amigos deveriam seguir durante o “game”, bem
como as pistas que eles precisariam solucionar se ainda quisessem continuar a
viver.**
*Imagem obtida gratuitamente no
Google Imagens.
**Pretendo publicar este conto em
capítulos semanais.
Gente, não sei porque estas tarjas brancas estão aparecendo no texto. Já fiz de tudo para retirá-las, mas não consegui. Se alguém tiver uma dica, eu aceito.
ResponderExcluirAdriane
Olá, Adriane, isto aconteceu comigo, e parece ser por causa de trecho colado, no corpo do texto original, lá na fonte onde trabalhastes o teu escrito!!!
ResponderExcluirEm tempo: Este seu texto está muito bom, assim como todos os demais, é lógico!
ResponderExcluirEstou gostando muito de ler os teus textos!!!
Grata Glênio pela dica. Vou tentar corrigir novamente a configuração no word para não ocorrer de novo. O que acho meio difícil. rsrsrsrs
ExcluirObrigada pelo comentário elogioso.
Abraço