A
hora de não fazer nada é esta, este instante, este segundo ou seu milésimo.
Agora
é esta hora de nada fazer, quando o trabalho já te cansou tanto que não é mais
possível ver as letras que continuas teclando de forma inconsciente.
É
a hora de nada fazer porque o calor aumentou. Teu sapato aperta tanto teu pé
esquerdo, causando um inchaço tão incômodo, que sobe por tua perna e reflete em
teus neurônios, através de uma embolia que impossibilita que consigas juntar
uma letra na outra, emendar uma sílaba e coordenar uma mera frase.
Então,
tu percebes que esta é àquela hora, transitória, aguda, insatisfatoriamente
cheia-vazia, em que é preciso desligar os dedos, erguer os braços e gritar por
uma alforria que não é necessária, mas todos desejam.
Quando
surge esta hora de nada fazer é preciso cuidado e coragem. É preciso nada fazer
e, ao mesmo tempo, dizer “chega, basta, já não dá, me esquece, vou fugir, quero
morrer, quero esquecer, quero pegar, quero voltar, quero sair, quero chegar,
quero deixar”, porque estes minutos se tornam os únicos que te restam para não
perderes o que és tu, sendo que nada és.
Assim,
se chegou a hora de nada fazer, para um minuto, respira, sufoca, grita, fica
mudo, surdo, cego, louco; louco de pedra, porque chegou a tua hora de não fazer
nada, somente observar e sentir e aproveitar os quinze minutos de intervalo que
teu patrão te dá somente para não receber a multa por te tornar um servo
impensante.
Respira,
porque chegou a hora de glorificar a escravidão moderna.
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