sábado, 8 de dezembro de 2012

NADA


A hora de não fazer nada é esta, este instante, este segundo ou seu milésimo.

Agora é esta hora de nada fazer, quando o trabalho já te cansou tanto que não é mais possível ver as letras que continuas teclando de forma inconsciente.

É a hora de nada fazer porque o calor aumentou. Teu sapato aperta tanto teu pé esquerdo, causando um inchaço tão incômodo, que sobe por tua perna e reflete em teus neurônios, através de uma embolia que impossibilita que consigas juntar uma letra na outra, emendar uma sílaba e coordenar uma mera frase.

Então, tu percebes que esta é àquela hora, transitória, aguda, insatisfatoriamente cheia-vazia, em que é preciso desligar os dedos, erguer os braços e gritar por uma alforria que não é necessária, mas todos desejam.

Quando surge esta hora de nada fazer é preciso cuidado e coragem. É preciso nada fazer e, ao mesmo tempo, dizer “chega, basta, já não dá, me esquece, vou fugir, quero morrer, quero esquecer, quero pegar, quero voltar, quero sair, quero chegar, quero deixar”, porque estes minutos se tornam os únicos que te restam para não perderes o que és tu, sendo que nada és.

Assim, se chegou a hora de nada fazer, para um minuto, respira, sufoca, grita, fica mudo, surdo, cego, louco; louco de pedra, porque chegou a tua hora de não fazer nada, somente observar e sentir e aproveitar os quinze minutos de intervalo que teu patrão te dá somente para não receber a multa por te tornar um servo impensante.

Respira, porque chegou a hora de glorificar a escravidão moderna.

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