quarta-feira, 17 de abril de 2013

DIA D (SUBVERSÃO)

Hoje é dia de subversão.
Alguns poderiam dizer que isto é um reflexo do atentado nos EUA, mas não. Preciso admitir que não. Esta espécie de coisa não faz minha praia. Além disso, as vítimas irão prantear muito mais tempo do que as feridas ou cicatrizes poderão perdurar. Não haverá cura para a chaga aberta nos inocentes ou culpados.
Todos irão amargar sequelas. Isto é um fato totalmente irremediável.
Não. A subversão minha é de outra monta, espécie, gênero, classe, grau ou qualquer outra forma de identificação de gestos de resistência.
Minha subversão não é violenta, contudo, impossível dizer que é pacífica. As vezes, o silêncio é o ato mais violento que se pode praticar.
Brota no ar desta cidade um que de idiossincrasia que, me perdoem a rima despropositada, ou a aparente analogia ruim, que me causa uma azia terrível, terrível, nem sei bem como expressá-la, curá-la ou meramente minorá-la.
E por isso estou sempre em estado de choque.
O dia se amontoa na esquina e me deixa com a sensação de que nada fiz, embora os saltos de minhas botas estejam bastante gastos e as pernas estejam doloridas.
Os olhos doem com a luz linda que incendeia o céu, mas agrava minha fotofobia. Mas a cidade não dá trégua, ela quer sempre mais, ela cobra sempre mais.
O sentimento de que não me identifico com nada nem ninguém, ou vice-versa, já me atravessa a mais de uma década, mais ou menos. É a pena por ter um universo habitando minha vida, sem que ele possa ser totalmente controlado ou controlar-me de vez.
Não. Com certeza eu não sou daquelas pessoas que vivem crises existenciais cotidianas. Ao contrário, eu gosto mesmo é de calmaria e silêncio, ao fundo uma música suave repercutindo no ambiente, tudo temperado por umas poucas e breves experiências inusitadas para ajustar o salgado da vida, melhor, o agridoce da minha existência. 
No entanto, apesar do meu gosto pessoal, algo teima em me desviar da normalidade e me levar a percorrer os mais difíceis caminhos para chegar ao mesmo lugar que as pessoas em geral chegam.
Não, não é o destino que bate à minha porta.
Não creio nele.
Na realidade, o mais certo é que o acaso conjugado com as coincidências do cotidiano causa-me uma reação, produzindo um resultado que, no geral, eu prevejo, mas deixo ocorrer naturalmente, por desatenção ou descaso.
É que a vida tem dessas situações: ela te põe diante do monstro ou do espelho e tu tens que escolher entre enfrentar ou se refugiar num lugar que não existe.
Eu ainda teimo em optar por arrastar o monstro comigo para outra dimensão. Se tenho que sofrer o exílio, que não seja só, que seja com meu inimigo capital. É matar ou morrer, morrer ou matar e depois ser morto, como disse um personagem de uma série famosa.
Para os amigos a benesse de não ter que adentrar no submundo dessa viagem.
Portanto e apesar do conhecimento prévio das escolhas que posso fazer ou deixar de fazer, em reação a vida que flutua no horizonte, eu prefiro subverter a situação. Sempre tive desses sentimentos subversivos: se eu não posso com eles, eu os reviro, mesmo que acabem me deixando com a mente dando voltas e um enjoo de matar qualquer pessoa mais sensata.
Eu vou subvertendo as consequências, as reações, as respostas, as emoções. Eu finjo que elas estão longe ou perto e, assim, posso ao menos tentar enganar o monstro, esse que vai comigo e que sempre acredito que não vai me vencer, pelo menos mais uma vez, embora às vezes...
Por isso, hoje é dia de subversão. 
De espatifar o espelho, viajando para um lugar onde somente eu e meu inimigo especial conseguiremos permanecer.
É o momento de subverter as sensações e sofrear os ímpetos mais doces ou mais amargos. De chorar, embora entre sorrisos tímidos.
Hoje, hoje é mais um dia D.