A miséria...
A miséria acompanha os passos
trôpegos dos inquilinos desta história.
As cancelas foram abertas por um
expert crente que sua sanidade é maior que a dos demais seres.
A miséria desandou por entre as
colinas e soterrou a prudência de quem julga aqueles que digladiam por fatos
derradeira e fatidicamente cotidianos.
“Vigia! Quem és tu que dizes que
velas pelos desvalidos, mas não vês as lamúrias de quem anda por esta estrada
deserta?”
De uma viela surgem olhares
lacrimejantes, enquanto os corpos prisioneiros são arrastados ao desabrigo da
tempestuosa distância de quem acredita que sua verdade é suprema.
Os miseráveis e os dementes nunca
serão ouvidos, mesmo quando não mentem.
“Vigia! Quem és para julgar outra
mente quando tu a tem tão imprudentemente desprovida da experiência de além das
trincheiras que te protegem das ruas?”
Verdugos cambaleiam no convés da
galé, empunhando seus chicotes e amarras. Quem
são os que a miséria açoitará?
“Vigia! Tu és o afortunado, mas tua
práxis te torna um dos celerados. Que decisão tua realmente poderá salvar o
desgraçado?”
Remam, mutilados, os decadentes
entes que proliferam nas vias e parques da cidade gris. Destituídos covardemente
de afeto e segurança, buscam o consolo inexistente nos afagos da chuva ácida e
triste que desaba de abrigos de papelão capengas e estapafúrdios.
E gritam confusos e embrutecidos: “Vocês não nos protegerão!”
E gritam confusos e embrutecidos: “Vocês não nos protegerão!”
“Vigia! Tu já não devias dormir!
Tua culpa sangrará das chagas nos teus pulsos, que nem o tempo, nem a morte
poderão curar!”
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